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MIRRORS WITHOUT A FACE: A Response to Espelhos Para Olhos Cansados, 2024

Por Richard Williams, Feature Creep, texto crítico sobre o vídeo "Espelhos Para Olhos Cansados" link

*traduções em breve

In the 1960 French horror film Les Yeux Sans Visage, (aka Eyes Without a Face) a plastic surgeon kidnaps and murders young women; attempting to graft their faces onto his daughter after her disfigurement in an accident. While largely about the nature of obsession and control, and the danger of love turned toxic, the specifics of the film’s body horror have an unexpected resonance with the most recent addition to our archive. The titular faceless eyes, (which belong to the aforementioned doctor’s daughter, Christiane) offer us a complex, and surprisingly prescient metaphor for our own post-internet image culture. The face of an anonymous dead woman, stolen from not only its true owner and originator, but the very history and context that gave it meaning, and grafted crudely onto a body it doesn’t belong to, perfectly (if bloodily and hyperbolically) describes the state of a lot of contemporary imagery. While ostensibly created for discovery and connection, the digital networks through which our images, data and social selves now flow, have instead become tools of mediation, exploitation, and dissolution. Image, gaze, reflection, identity, place and history, have all become increasingly divorced from and/or grafted onto one another in our digital spaces, in a grim process that leaves no shortage of bodies (both methaphoric and real) in its wake. And no matter how many times these grafts and transplants are rejected and left to whither, the mad doctors who benefit from the system push ever onward, refining but never reforming. Whether we become faceless eyes, eyeless faces, or merely one of the bloodied hands between these states, (and indeed most of us have played each of these roles at one point or another) the aftermath is often little more than a waste bin of spare parts and bloodied mush. Image mush, data mush, person mush. Espelhos Para Olhos Cansados (aka Mirrors for Tired Eyes) is a video performance by Nicole Kouts, which presents a figure wearing ‘lazy glasses,’ (which use angled mirrors to allow their wearer to read or view a screen while reclining) in various states of recumbency. While far more meditative than the frenetic Eyes, Kouts’ piece nonetheless explores the disconnect between eyes and face, as well as between gazer and gazed-upon. Alternating between wide landscape shots, and its reclining figure’s own POV, the work deftly navigates the same complex relations as the film, but without the baggage of that work’s schlock and awe theatrics. Through the simple injection of two postage stamp sized mirrors, Kouts’ work replaces the garish high contrast gore of Eyes Without a Face with the calm, brightly-lit middle distance that most exemplifies the Neoliberal structure that the world has been enmeshed within since that film’s release. Bloody scalpels and tawdry music stings are replaced with bucolic repose and soothing arcadian skies. No longer is our young Christiane a tragic and conflicted figure, going from unwilling but passive victim to murderous vengeance-seeker. Instead, we are given a figure with no name, no history, and only the scantest of contexts, who sits in languid acceptance of the mediating screens that fill their vision. The mad surgeon’s murderous henchwoman has been upstaged by the simple, unchallenging comfort of a blue sky or lilting pond. Having learned from their gorey ends in Eyes Without a Face, (I won’t spoil the details, but it involves some very good boys) those who benefit from and push the system forward have pulled back the scalpel, and instead offered us a calming balm for tired eyes. A seamless and near perfect mediation, which leaves only the faintest of scars… Confession time: I have never seen Eyes Without a Face. I have a general awareness of it through cultural osmosis, and everything else presented here came from my own use of ‘lazy glasses,’ in the form of both Wikipedia and a hazy, decades old memory of the cheap Italian knockoff of the film, titled Atom Age Vampire. and before you ask, it features neither atoms nor vampires. This little (and rather halfhearted) deception is my own attempt at some theatrics. To show just how easily our new networks can cut away context and true experience, in favour of the crude and haphazard stitching together of data and image and cultural reference. I have not seen the film, but it has been seen, and with a minimum of friction I can graft it where and how I please. Mediation and manipulation are now the default. We are all mad doctors here. Until next time: So long. Au revoir. Adeus. Ciao.

MNEMOTÉCNICAS, 2024

Por João Rocha, Opera Gauche, texto sobre a exposição Mnemotécnicas, Embaixada do Brasil na Grécia link

Obra do acaso, hoje trombei com Simônides de Ceos pelas ruas de Atenas. O poeta, célebre na Grécia antiga, vinha ladeira acima rumo à Casa do Brasil. O alcancei enquanto ele recuperava o fôlego em uma esquina. Ele também havia sido convidado para a abertura da exposição Mnemotécnicas pela artista Nicole Kouts. Acompanhamos um ao outro ao longo do caminho, aproveitando para colocar o papo em dia. Afora falecido, passava bem. O encontro fortuito trouxe à tona o paralelo entre a exposição e o salão de banquetes no qual Simônides primeiro constatou por si mesmo as mnemotécnicas que agora a intitulam. Interface real de um espaço virtual no qual a artista, a exemplo do poeta, vasculha os escombros na tentativa de identificar o que se perdeu em meio à poeira erguida. Assim como ele, é às imagens que ela recorre. Em Mnemotécnicas, Nicole Kouts faz do espaço expositivo da Casa do Brasil a materialização de um palácio de memórias suas e outras através das obras nele contidas. Em meio às ruínas do salão de banquetes, não há mais medo de colapso, o teto já desabou. Chegando à porta de entrada, porém, não me passou despercebido que mesmo o fantasma de Simônides de Ceos olhava para cima apreensivo. Àqueles que, assim como eu, adentram o espaço providos da cautela natural dos que sofrem de constituição corpórea, resta apenas a recomendação para que venham munidos de seus próprios capacetes. No meu, só cabe um. E que mantenham o olhar firme ao percurso que a artista mapeia, não para fora, mas para dentro, como deve ser.

DESERTO DO REAL, 2022

Por Laura Rago, Revista Zum - IMS, entrevista com Nicole Kouts sobre o trabalho "A Anunciação dos Anjos Digitais" link

Laura Rago: A coleção de imagens e a memória são alguns dos sentidos que abastecem as obras expostas em 10 Desertos dos Erros. Para a criação de A Anunciação dos Anjos Digitais, você parte de um hábito antigo de colecionar imagens recolhidas em sebos, delimitando uma temática nos recortes e transportando-os para um caderno (físico). Ao mesmo tempo que traz esse comportamento para sua obra, você assume também a ótica do voyeurismo digital, quando é estimulada pelo íntimo alheio, e se questiona sobre a invasão de uma privacidade descartada. Como foi esse processo e como esses debates aparecem nesse trabalho? Nicole Kouts: O convite para integrar o Deserto de Erros e criar um trabalho a partir de conteúdos de HDs descartados foi estimulante e provocativo, por ser um modo de buscar imagens que é muito próximo do meu processo de pesquisa, garimpando revistas em sebos, materiais gráficos e álbuns de fotos do século passado, e também em arquivos fugazes de uma camada anterior da internet que já está em ruínas. Apesar das diferenças entre materialidades analógicas e digitais, o sentido é o mesmo: trabalhar com memórias recuperadas, restauradas, reeditadas. Essa proposta aponta para infinitas combinações e recombinações no que diz respeito à criação de materiais visuais. O colecionismo de imagens e o voyeurismo, mesmo que de forma involuntária, são hábitos cotidianos não exclusivos de uma prática artística. São reflexo de uma existência permeada pelos meios digitais, e, ainda que não sejam fruto desses meios, atualmente são parte integrante de seu funcionamento. É intrigante pensar que a existência hoje implica a produção automática de matéria digital e memória visual. LR: As imagens dos HDs foram compartilhadas pelo sistema de computação em nuvem. Isso despertou uma pergunta que você já se fazia há um tempo: “Se existissem anjos nas nuvens digitais, quais seriam as suas formas?”. Além disso, analisando as imagens, você notou que as pessoas, em geral, guardam momentos de celebração em seus arquivos digitais. Isso fez com que você partisse dessa temática para selecionar elementos que compõem a imagem de sua obra. Como esses resgates aparecem conceitualmente na produção? NK: A metáfora da nuvem como espaço de armazenamento me parece muito misteriosa. Nuvens são elementos da natureza que pairam acima, transitórios, impermanentes. Narrativas milenares associam as nuvens ao sagrado. São a morada de deuses, de anjos. São formas ambíguas entre o mundo celeste e o mundo terreno. Penso, então, em uma correspondência com as nuvens computacionais, às quais confiamos a função de abrigo seguro, apesar de invisível e intangível, para nossos mais valiosos registros e dados: uma confiança de fé, como se vê em muitos sistemas de crenças. A disponibilização dos materiais dos HDs através de um serviço de nuvem evidenciou essa questão. Recordações preservadas como informação, salvas, imagens “iluminadas” de situações que, em sua diversidade, apontam recorrências. Os registros de momentos de celebração que encontrei provaram-se as imagens mais divinas e divinatórias para refletir sobre esse tema. Há, também, uma discrepância paradoxal entre a materialidade de um computador antigo, inutilizado e impotente à beira do lixo e a imaterialidade reluzente e potencial de seus arquivos. É um encadeamento complexo de caminhos e acessos daquilo que não se vê, mas se sabe que existe. É possível pensar nesses HDs como protonuvens, espaços informacionais ainda localizados ao nosso alcance, na própria máquina, offline, ao contrário dos dados que habitam servidores distantes, cuja localização no tempo-espaço é imprecisa. Se deuses e anjos habitam as nuvens no céu, o que reside nas nuvens computacionais? LR: É um desafio vencer a estética do feed das redes sociais – com sua rolagem vertical, de cima para baixo – e a velocidade imposta por essas estruturas, que tem como efeito colateral o esquecimento. Você escapou dessa lógica padronizada ao propor uma leitura horizontal, em que a visualização é mais ampla, e insere outra camada na obra a partir da ferramenta de lupa, permitindo uma relação diferente do espectador com a obra e possibilitando outro tempo de contemplação. Fale um pouco sobre isso. NK: O escape da lógica de visualização das redes sociais começa com o próprio website do Deserto de Erros, onde o trabalho está hospedado. O site foi programado de modo a comportar e articular diferentes propostas artísticas, o que estabelece um microuniverso de navegação diferente do convencional. Desse modo, pude pensar A Anunciação dos Anjos Digitais (2022) como um painel digital horizontal feito com fusões de mais de 50 imagens, sem me preocupar se estaria apropriado para postar em um feed pré-formatado. É um espaço vasto de possibilidades em termos de visualização, navegação e interação. Uma das principais referências para pensar na construção da imagem foram os antigos painéis de arte sacra feitos sob encomenda para catedrais. São narrativas de grandes proporções, que propiciam diferentes modos de visualização ao preencherem o espaço físico disponível. São desafios semelhantes de uma relação entre tempo e espaço. Nesse caso, propus uma leitura horizontal, a partir do movimento lateral do painel, que em nenhum momento aparece por completo na tela. O elemento da lupa, que amplifica os detalhes dentro de um pequeno círculo, confere a quem está navegando a autonomia de perscrutar a imagem. LR: Você utilizou a linguagem do programa Photoshop para desenvolver a colagem digital, uma vez que o considera mais “rústico”, artesanal e controlado se comparado, por exemplo, ao uso de sistemas de inteligência artificial para a produção de obras de arte. O que muda nessa abordagem de linguagem nos seus processos de criação? NK: Usei o termo “rústico” sem querer, mas vou aproveitar para aprofundar o raciocínio. A escolha do programa se deu por hábito, familiaridade, e por oferecer as ferramentas necessárias para realizar uma fusão manual-digital entre as imagens que compõem A Anunciação dos Anjos Digitais (2022). É curioso pensar em métodos “artesanais” de trabalhar com um programa de computador, que por si só já é repleto de mecanismos inteligentes e automatizados. Os sistemas de IA em desenvolvimento hoje em dia, com atualizações intermináveis e modos de operação ocultos, ganham os holofotes e provocam um deslumbramento que me desperta dúvidas. Há incontáveis sistemas digitais que em pouco tempo caíram em desuso, uma série de mídias, programas e procedimentos que não tiveram tempo suficiente de existir e de gerar reflexão. Essas lacunas são uma questão filosófica importante para mim e isso repercute em meu trabalho. Parece que há algo errado quando percebo que websites, jogos e conteúdos que compuseram o imaginário da minha infância no início dos anos 2000 estão sendo apagados rápida e silenciosamente, sem deixar registros. É um efeito de percepção que torna o passado recente mais distante e o futuro próximo mais presente. LR: Estamos imersos em bolhas algorítmicas, que acabam modelando nossos padrões estéticos e de comportamento, entre outros. De que forma isso se reflete na sua produção? NK: Isso se dá em forma de inquietação e substrato para pesquisa. As chaves possíveis para decodificar esse fenômeno são diversas; eu me interesso especialmente pela ideia da imagem digital como meio de transporte de crenças ancestrais para tecnologias contemporâneas. O tráfego dessas imagens, dentro de limites impostos ou escapando deles, é parte dessa reflexão. Nesse emaranhado de tensões entre fantasmas e avatares, memórias e dados, encontro muitas questões em aberto. LR: O contexto e o conteúdo da net art convive com variáveis que alteram as formas de recepção, percepção e experiência, reconfigurando os ambientes expositivos tradicionais e o acesso à arte. Como você avalia os projetos artísticos virtuais? NK: Há uma complexidade inerente à circulação de informações, que é própria dos meios digitais e que faz parte, também, da net art. Cada espaço escolhido para abrigar um trabalho estabelece um sistema específico de navegação e interação. Atualmente, a navegação online confunde-se com a navegação pelas redes sociais. Escapar da lógica desses ecossistemas passa por escapar desses ecossistemas em si, ocupando espaços não (mais) hegemônicos, tais como websites particulares. Nesse sentido, a net art assume papel fundamental ao permitir experimentações com essas alternativas. Para circular pelas redes sociais, por exemplo, como forma de divulgação, o trabalho A Anunciação dos Anjos Digitais (2022) teria que ser adaptado para isso. É uma problemática conceitual e formal que se apresenta como uma negociação constante: ocupar circuitos mais acessados, estabelecendo um diálogo mais amplo com as pessoas e públicos que participam deles, ou contornar esses circuitos para escapar da lógica predominante e explorar caminhos menos percorridos?

O IR E VIR DAS IMAGENS, 2022

Por Gabriel Bogossian, texto para a publicação "Trocando figurinhas: 001-500", de Gabriel Pessoto e Nicole Kouts link

Colecionar e trocar figurinhas fez parte da infância de muita gente: não só nos álbuns, completando páginas com times de futebol ou elencos de desenhos animados, mas também em embalagens de chocolates, jogos de cartas e outras quinquilharias, as pequenas imagens impressas traziam fragmentos do mundo para mais perto e serviam como matéria-prima da imaginação. Trocando figurinhas, obra-processo de Gabriel Pessoto e Nicole Kouts, é regida pelo mesmo princípio. Mantidos em casa pela pandemia, os dois artistas criaram uma espécie de diálogo por imagens, onde, diariamente, um deles responde com uma figurinha à figurinha que o outro postou no dia anterior. O desenvolvimento da obra, sem outras regras além da resposta diária e do uso do mesmo formato de imagens, criou, ao longo desses dois anos, seu próprio código, no qual a livre associação explora analogias visuais e ecos concepto-formais de uma figura a outra, como se a adição de sempre mais uma imagem aumentasse as chances de darmos sentido à experiência da passagem do tempo no isolamento do mundo imposto pela quarentena. Distante de sua ação dispersora, o tempo aqui torna-se vetor de uma acumulação que explora a dimensão positivamente improdutiva da comunicação e leva Pessoto e Kouts a avançar juntos rumo a uma coleção sem limites. Desse modo, Trocando figurinhas configura-se como um escape poético, abrindo frestas lúdicas na produção de sentido que organiza nosso cotidiano. Como uma escrita automática desobrigada da sintaxe, a obra avança sem buscar conquistar saberes sólidos e solenes, mas desvelar novas relações visuais e novos campos de jogo. A disposição das imagens em colunas, no tumblr do projeto, ressalta sua dimensão dialógica, permitindo restaurar os avanços dessa espécie de coreografia de gestos intercalados, onde as séries de cada um se entrecruzam como num diário a dois. Desviando-se dos enunciados apocalípticos que nos convocam a enfrentar o excesso contemporâneo das imagens de modo iconoclasta a fim de zelar pela nossa integridade imaginária, a ação de Pessoto e Kouts remete à Internet do passado, mais livre e menos comercial, com imagens menos padronizadas pelo marketing. Com isso, a dupla elabora o que poderíamos chamar de uma pequena ética cotidiana do afeto, toda fundada na interlocução interessada – etiqueta que compensa as distâncias e ajuda a tolerar os excessos do tempo presente e sua estridência destrutiva. ​ Gabriel Bogossian março de 2022

VISUAL DIALOGUES WITH NICOLE KOUTS AND GABRIEL PESSOTO, 2022

Por Julianne Cordray, entrevista com Gabriel Pessoto e Nicole Kouts para a Art Connect Magazine link

With a shared interested in investigating the nature of images and their changing associations, artists Nicole Kouts and Gabriel Pessoto decided to collaborate. The result is the work “trocando figurinhas“, which was selected by curator Brunno Silva as one of two winning projects in our open call competition, “Correspondence”. Julianne Cordray: Congrats! How did it feel when you received the email notification that your project “trocando figurinhas” had been selected? Nicole Kouts & Gabriel Pessoto: We received the news with joy and surprise. We had begun developing the project “trocando figurinhas” (swapping stickers) in a low-profile way, thinking that this silent daily visual correspondence could become something powerful and relevant to our practices. Our exchange on the blog began in May 2020, but we hadn’t publicized the project until now. We thought it would become more interesting in the future, since it’s growing slowly every day. Then, we came across the open call “Correspondence” and decided to think about ways to share a bit of our recent experiences with other people. JC: Beyond that, winning this open call gave us a chance to think deeper about something that is happening in the present moment. This process has allowed us to find a broader meaning within this project and to reflect on the multiple possibilities that can emerge from a simple but constant dialogue based on some rules and many images. The open call, and now the act of reflecting on the process, correlates to our research. We debated about our impressions over the course of this curious experience, about the moment and the context we’re living in. We also had a lot of discussions about some common interests we share in our personal artistic researches, which helped us to understand what we’re investigating. And we’re constantly thinking about future steps the project could take. NK & GP: “Our slow exchange of images might be seen as an attempt to counteract the amount of visual stimuli that we are exposed to daily, the pace of content responses and messages dictated by these [digital] systems.” JC: What were your reflections on ‘Correspondence’ as both a topic and a mode of working? NK & GP: We took the topic of “correspondence” to be related to the possibility of digressing together — being in touch with someone, sometimes in real time. We share a common interest in researching images and that’s why we decided to create the project. And we’re also interested in exploring a dialogue mediated by images, which are capable of causing interferences and stimuli. We wanted to consider communication in the digital context in contrast to obsolete media and the attribution of improbable meanings along this path. As a mode of working, we realized that correspondence can flourish when there is an equivalence. So we established rules that govern the rhythm of this exchange. We also determined the platform where it would happen, the aspects of the message translated into this form, and a way to send it. From the beginning, we reflected on some aspects of physical distance and communication means — between analog and digital media. We decided to operate via digital means, since we are used to this virtual living space. Then, we thought about the common thread of “trocando figurinhas”: an image as a message, sending as an intention and the correspondence as a stimulus. JC: As you mentioned, the project grew out of existing dialogues that you perceived between your individual creative processes. What were those dialogues, specifically? NK & GP: The dialogues we perceived between our processes are closely related to the interest in the image as an object of discussion and storage of memories. We both work with appropriations and displacements, with editing images that already exist, observing new meanings that can occur when they are transported through different media, analog or digital. In addition, some previous artworks and procedures included the collaboration and participation of other people. There is also an interest in representing our images as beings that exist in a digital space. Which are also permeated by narratives and information related to our cultures and experiences in the world. JC: Correspondence doesn’t just take place between the two of you in “trocando figurinhas”. The collectively produced visual letter is also sent to a remote recipient, and others are invited to participate, as well. Why did you decide to open it up in this way? NK & GP: By exchanging images daily, we noticed some unpredicted, subtle narratives being built up. These narratives might, to some extent, be inferred by those who look at the images. But they’re also related to the process of choosing each one. Because of the fissures resulting from a dialogue mediated by other tools, we decided to expand the project beyond the correspondence of images chosen by two people. Opening space for the multiplicity of connections that can happen when these images are received by remote recipients assigns another layer of meaning that attests to the power in the act of corresponding. We don’t even reveal the authorship of the blog or present it as an artistic research project. So, “trocando figurinhas: operação piloto” (swapping stickers: pilot operation) shows us performing an action that is not subordinated to our private actions and can be reproduced by other players. In this way, the work points to the possibility of creating a visual glossary with a clear meaning for those who build it, and through which it is possible to encourage new people to experience it. ArtConnect’s open call gave us the chance to expand the action in this way. We created instructions to invite other people to a less conventional experience of dialogue through images. JC: Can you tell us a bit about your individual creative processes and research outside of/in relation to this project? GP: Leading up to “trocando figurinhas”, the idea of visual correspondence had already materialized in my work “variações sôbre contato: vistas” (contact variations: views), from 2016. Developed in the art residency program of Casa13, in Córdoba/Argentina, the project consisted of exchanging images in 3 steps with 8 other artists who lived in different cities. The result of this process, including a video call that happened during that period, took the form of printed posters, which I glued on the streets. Although the work is related to Mail Art and had material ramifications, it was only possible thanks to the use of digital tools, such as video and sending files through the internet. There are some other aspects of the project “trocando figurinhas” that I can relate to works developed in traditional media. For example, “repositório: um pouco por dia já é muito” (repository: a little a day is already a lot), from 2018. Although it’s a drawing project, it’s part of my research on editing images. Organizing fragments of memories into a grid composition, I relate the image repository to patchwork quilts, stitch cross embroidery and pixels. 54 squared drawings on paper were produced over a few months and grouped in a panel. The organization of this visual material taken from different sources, displaced from its original context, creates new relations between images. This repository also deals with the transfer of images through different media, both analog and digital. In this case, a lot of these drawings were made using screenshots, video stills and digital images as references. At the same time, some of them were inspired by old magazines or printed media. "Organizing fragments of memories into a grid composition, I relate the image repository to patchwork quilts, stitch cross embroidery and pixels." - Gabriel Nicole Kouts: I have a habit of storing many images, taken from different situations. I recover, archive, organize, transform and, from these processes, I create. I find, in these overlaps, possible and impossible dialogues between analogue and digital media. And through these paths, as an archeology of what is present, I place my research in the unstable contemporaneity of the senses and in their multiple and multiform narratives. I try to perceive the voids that exist in the perception of images, especially those that we see on luminous screens, where we deposit so many veiled beliefs and desires. In my recent research I can identify several aspects that are also part of “trocando figurinhas”. An example of a process facilitated by correspondence is the happening “Dopplegängers” (2020). The artwork is a question, a request: “Have you ever seen someone who looks like me? Or do you think I look like someone? If you remember and/or find it by chance, could you please send me a photo?”. Like a “wanted” poster or sign, at the same time circulated as an image on the internet and by word-of-mouth. The project takes place indefinitely, and the intention is to collect photos of people who look like me, found and sent by other people. Similarly, the installation “A Senda dos Olhos Entreabertos” (The Path of Half-Opened Eyes), from 2018, presents the ritualistic potential of past and present. As well as the places of memory in the contemplation of sacred images and in contemporary communication through images. The artwork is composed of xerographic images made with the overlapping of magazine clippings, using the narrative structure of Byzantine icons as a compositional guideline. Positioned in a corner with low-key lighting, it corresponds to domestic sanctuaries and intimate prayer spaces. The images, which are apparently hidden, are revealed by the continuous traversing of a narrow beam of light behind each of them. "I try to perceive the voids that exist in the perception of images, especially those that we see on luminous screens, where we deposit so many veiled beliefs and desires." - Nicole JC: What were your thoughts on digital forms of communication leading up to “trocando figurinhas”, particularly in light of the current pandemic? NK & GP: Our motivation to create this project is directly linked to our questions about the forms of communication available and possible in the current context. We started an art residency in a physical space at the beginning of the year. As the pandemic developed, our processes were inevitably affected by the consequences of isolation and frustrated expectations. How could we create alternative means to keep in touch? How could we understand existing artistic researches in this new context? In addition to affinities in our artworks and the desire to keep in touch, it was also important for us to reflect on processes that were not associated with a pre-pandemic demand in the art circuit or an attempt to make a critical comment about the new scenario. Our desire was to create something that aligned with the present moment in a sincere way, from our personal experiences. In this way, we wanted to create a project that was not simply a transposition of some analog procedure, nor related strictly to digital discussions and visuals. We started with the assumption that “trocando figurinhas” is not an artistic work; it is a research process under development. It’s the communication between two people, personal files and repertoires, but it’s done digitally. It included some structure, in order to enable our correspondence, but without a clear objective or desired outcome. We also had to work with existing digital tools — since we’re not able to program our own digital spaces — while thinking of ways to subvert forms of communication and the systematization of thoughts that we are all used to. Our slow exchange of images might be seen as an attempt to counteract the amount of visual stimuli that we are exposed to daily, the pace of content responses and messages dictated by these systems. At the same time, we explore the potential of these existing tools and their functionalities. In “trocando figurinhas: operação piloto”, some of our decisions were made by these digital/online tools. But at the same time, the action depends on our human presence — there is an affective dimension involved in the selection of each image. JC: And how has the project’s development influenced your thoughts on forms of communication (considering it dematerializes, in some ways, more tangible forms of letter/message correspondence)? NK & GP: Following the premise of subversion, we think about what the dematerialization of more tangible means of correspondence can mean. How can we reconfigure expectations, attributions, features and applicability to which we are so accustomed? Our main reference was Mail Art, which started in the 20th century. It took as its premise the diffusion of artworks in an alternative circuit, understanding its transit as a fundamental component. And it included several performative actions guided by pre-established instructions. We think that, from a similar perspective, new practices are possible thanks to digital tools. JC: What were some of the unexpected outcomes that emerged? NK & GP: The most unexpected result was realizing that, beyond the correspondence between two people, the visual archive created contains an inevitable interlocution between images. This includes narratives, conflicts, sequences, sets. Screenshot of the blog “trocando figurinhas”. Courtesy Nicole Kouts and Gabriel Pessoto. JC: Do you have any ideas in mind for future directions this project might take, or further collaborations? NK & GP: We agreed that the premise of “trocando figurinhas” is closer to a research project and artistic experimentation than to a defined work of art. We do not know how it will unfold in the future, or how long this project is going to last. If new issues and propitious moments arise (like the ‘Correspondence’ open call), we already have a number of ideas for new proposals. And we also like the idea of taking a flexible approach to exploring and expanding the project. We believe other forms of activating collective visual archives might become one of the most important topics of research in the long term. Some possibilities that we discussed include organizing this material into a publication or even taking this project to an exhibition space — though these ideas are still in the early stages of development. We also thought about creating a collaborative platform where images could be sent and received by anyone who has access to it. While we’re still developing these ideas, we would like to invite you to visit our blog (where the daily exchange of image takes place) and to correspond with us.

COMO PERGUNTAR TUDO?, 2021

Por Revista Tonel, texto publicado 3ª edição da revista (26/11/21) link

"Na era da informação, fazer boas perguntas não basta, e isso deixaria Sócrates muito triste. A necessidade de se ter respostas nos conduz dentro da internet como quem lê a bíblia, mas com o fim do Yahoo Respostas no dia 19 de Abril de 2021 vivemos o fim de uma era. Aproveitando essa oportunidade, a artista multimídia Nicole Kouts realizou um feito histórico com seu trabalho "Como perguntar tudo?", evocando em nós e nos ex-usuários dessa plataforma tão millenial todas as perguntas."

PRECISÃO E EXPERIÊNCIA, 2019

Por Filippi Fernandes, texto sobre o vídeo "Precisão e Experiência" para o 48º Salão de Artes Novíssimos, Galeria Ibeu, Rio de Janeiro link

“O banquete está servido”, já dizia Mário Peixoto. No cardápio, uma dúzia de nomes. Inúteis, todos. Letras e números que se partiram na voz do tempo. Um manto de ausência estirado. Cadáver insepulto. Sobre ele, um dedo a digitar desejos que não calcam. Como ter expectativas do que não se marcou como corpo à voz do tempo? Porque toda a ação desempenhada na superfície deixa marcas, exceto na do vidro. Não há como marinar o que se faz ligeiro. No processo da escritura por intermédio de um vidro, mesmo cortando ao meio a vítima a que se refere o conteúdo da mensagem, nada muda. Porque a mensagem está isenta dos lastros. Porque a mensagem não se expressa senão pelo que informa e registra, n’algum chip eletrônico. Eis a memória do mundo. As distâncias comprimem-se à sucessão de imagens, à imagem de uma imagem. Entretanto, para onde foi o torto lirismo do cadáver insepulto e a poesia que nele possa residir? A essência devorada pela imagem da essência. Os leitores postos em preguiça e já sem tempo para a cumplicidade e o silêncio. Tempo zero."

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